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Edición N° 23 - primavera 2001

México: a criatura exemplar do neoliberalismo

Por:
Luis Fernando Novoa Garzon
*
(Datos sobre el autor)


Mary Shelley escreveu em 1816 o livro "Frankenstein, ou o Prometeu Moderno". Nele, um médico, Dr. Victor Frankenstein, forja uma criatura a partir de restos cadavéricos. O organismo ganharia "vida" depois de fortes descargas elétricas. A parábola tem óbvias reverberações no campo da clonagem, da robótica e da inteligência artificial. Mas é no campo das relações econômicas internacionais, que ela pôde encontrar o seu terreno mais fértil.

Tangido pela crise econômica e acossado pelos EUA, o México se tornou objeto de uma experiência frankensteiniana e se transformou em uma admirável espécime de laboratório. Um exemplo de cobaia voluntária bem sucedida do projeto de integração global subordinada. No final, tornou-se alvo de atenções no hemisfério por estar desempenhando muito a contento o novo papel reservado às economias capitalistas subalternas no século XXI.

A metamorfose kafkiana tem raízes na crise da dívida em 1982, transparece dramaticamente nos anos de desmonte e ajuste ao NAFTA a partir de 1994, e se concluí com o surgimento de um novo produto-país no ano de 2001.

Essa reestruturação, em forma de via crucis, tornou-se paradigmática especialmente para "nosotros" latino-americanos. Depois de eleito sob os auspícios da plutocracia e por sobre os restos mortais da democracia americana, George W. Bush escolheu o México para sua primeira visita oficial. Deixava explícito desse modo o quão prioritária e estratégica é a experiência mexicana para os planos dos grandes oligopólios norte-americanos. Ali, o atual Presidente mexicano, Vicente Fox, foi nomeado embaixador do Império tendo como missão promover a Área de Livre Comércio das Américas(ALCA) junto a seus pares latino-americanos.

Um exemplo mais que revelador dessa delegação é o Plano Puebla-Panamá/2001. O Governo Fox está negociando junto aos países da América Central um plano de integração comercial e de infra-estruturas que prevê a ampliação das redes de maquiladoras em direção ao Panamá. O projeto expansionista e privatista que as elites estadunidenses querem impor ao hemisfério se enraiza no México como um chamariz e uma vitrine.

Segundo as principais agências avaliadoras de risco o México atrai novos fluxos de investidores especialmente por sua estrutura de política econômica confiável, sua moeda estável e sua participação no Acordo de Livre Comércio para a América do Norte (Nafta). Parece que auto-flagelação e subserviência se tornaram pré-requisitos fundamentais para a sobrevivência econômica dos países periféricos

Podemos ver cristalinamente: o presente do México é o futuro que querem presentear aos países da América Latina.
Daí a importância de percorrer o histórico dessa bizarra experiência e analisar as suturas e reordenações feitas no país. Procedimentos estes que neutralizaram mecanismos de decisão nacional, eliminaram cadeias industriais inteiras, decompuseram e desagregaram economias agrícolas e redes comerciais interdependentes entre si.

Algo vivo por definição apresenta autonomia e animação. O que é um país então quando lhe retiram toda margem de autonomia? Quando o convertem em um eficiente e previsível acessório das grandes redes econômicas globais? Talvez uma máquina viva, uma nova geração de países-andróides. Quem sabe uma pátria vestida da cor da vergonha e do dinheiro. Na via das dúvidas continuamos sendo todos "Marcos"*.

* Subcomandante Marcos, porta-voz do Exército Zapatista de Libertação Nacional que defende um projeto democrático, igualitário e multiétnico para o país.



* Datos sobre el autor:
* Luis Fernando Novoa Garzon
Sociólogo, professor da Universidade Paulista-Campinas, mestrando em ciências políticas na UNICAMP

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